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Pessoas em situação de rua em Fortaleza contam com apoio de ONGs e igrejas

Confira dados sobre as pessoas em situação de rua em Fortaleza “Minha mãe machucou muito meu coração”. Essa é a forma da Luna descrever uma infância ...

Pessoas em situação de rua em Fortaleza contam com apoio de ONGs e igrejas
Pessoas em situação de rua em Fortaleza contam com apoio de ONGs e igrejas (Foto: Reprodução)

Confira dados sobre as pessoas em situação de rua em Fortaleza “Minha mãe machucou muito meu coração”. Essa é a forma da Luna descrever uma infância de abuso sexual e prostituição. Andarilha há 20 anos, vive principalmente na Praça Coração de Jesus, no Centro. Aos nove anos saiu de casa por não aguentar a rotina de ter que se prostituir para dar o dinheiro à mãe. “Amo minha mãe. Não tenho raiva dela, nem ódio, mas tenho mágoa. E eu queria muito meu pai do meu lado, porque meu pai nunca foi assim. Meu pai sempre me amou. Então eu acho que vivo na rua por causa de falta de carinho, educação, essas coisas.” ✅ Clique para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp O pai abandonou a família quando Luna tinha dez anos. Foi a última vez que ela o viu. “Ele foi atrás de mim lá na Imperador, no Centro”. Ela conta que o pai não a encontrou e, depois disso, não teve mais notícia. LEIA TAMBÉM: Pessoas em situação de rua enfrentam rotina de espera por abrigo e alimentação Pessoas em situação de rua relatam abandono e falta de assistência "E quero muito que meu pai, meu paizinho que eu amo muito, venha me buscar e venha me encontrar, que eu estou na Coração de Jesus, estou na rua Assunção, estou na Casa da Sopa, Tudo que eu penso, todo dia, quando acordo é se meu pai vai tá vivo ou morto, se eu vou tá viva ou morta, se eu vou ver meu pai um dia." Exploração sexual e perdas A exploração sexual é um dos motivos que levam crianças a irem às ruas. Sistema Verdes Mares A exploração sexual é um dos motivos que levam crianças a irem às ruas. Luna tem 29 anos, é usuária de drogas, mas tem conseguido apoio na ONG Espírita Casa da Sopa, que funciona na Rua Assunção, no Centro. Ela conta que conseguiu trabalho no local. “Adoro trabalhar, pode me dar qualquer emprego que eu vou na hora, lá me acolhe porque sabe da minha história, sabe da minha vida inteira”, diz. O apoio é também psicológico. Além dos traumas de infância, Luna sofreu duas décadas de violência, dependência química, privações e sofrimento nas ruas. Inclusive, a perda de filhos. “Tive três, só que uma está viva e dois morreram. A Maria (nome fictício) morreu com dois meses porque pegou meningite dos pombos na rua. Eu sofri muito com a perda dela. O segundo foi duma raiva espontânea que eu tive e perdi a criança.” A filha que sobreviveu tem 10 anos e mora com a avó, mãe do pai. “Ela é o amor da minha vida, eu não vejo muito, não é porque eu não queira, é porque não tá dando pra ver minha filha de uma forma que eu estou vivendo, tenho que me estabilizar. Eu não quero ver minha filha na situação que eu estou. Eu não quero a vida que eu vivi pra minha filha”, afirma, chorando. Apoio na espiritualidade Pessoas em situação de rua em Fortaleza contam com apoio de ONGs e igrejas Sistema Verdes Mares Organizações de cunho religioso têm desempenhado um papel importante do resgate e auxílio à população de rua, em especial no Centro de Fortaleza. Algumas oferecem acompanhamentos de saúde, distribuição de alimentos e cestas básicas e auxílio para a superação da dependência química. Na Praça do Ferreira, por exemplo, o início da manhã é marcado por doação de alimentos. Às sete, é fácil encontrar a ação dos voluntários evangélicos do Ministério Brasil para Cristo, que tem sede no Bairro Genibaú. São 160 pães distribuídos para as pessoas em situação de rua por dia. O cardápio também inclui cuscuz, leite, iogurte. “Aqui é uma carência muito grande. Tem criança com intolerância à lactose, tem criança de peito ainda. Então a gente busca estar sempre suprindo as necessidades mínimas possíveis”, explica o pastor Gerson Silva, um dos voluntários. O Café Solidário é um dos projetos do Ministério que também inclui oferta de oportunidades de emprego através da Padaria Social, no Genibaú. Carlos, por exemplo, vivia há dois anos em situação de rua na Praça do Ferreira até que foi contratado pela comunidade religiosa como padeiro, conseguiu moradia e deixou a condição. "É um projeto que resgata jovens em situação de rua, coloca eles dentro do mercado de trabalho, dando uma oportunidade de uma nova profissão e reintegrando essas pessoas, que antes estavam em situação de rua, à sociedade, a sua família", explica o pastor Marcelo Vilela, presidente do Ministério. A Igreja Católica também oferece assistência a essa população. Gerderson Lima conta que viveu muitos anos em situação de rua, mas encontrou saída na espiritualidade. “Eu comecei a trabalhar minha espiritualidade, eu procurei uma instituição conhecida como obra Lúmen, que faz um trabalho muito bacana na Praça do Ferreira, ajuda pessoas em situação de rua, dão alimentos, e acolhem essas pessoas em casas especiais, como fazendas.” Ele conta que sofria com a dependência da cocaína e vivia em situação de rua em Salvador. "Eu sofri durante muitos anos com essa dependência e escravo da droga, escravo do roubo, da mentira, da vergonha, do medo, da insegurança, da violência e, hoje, graças a Deus, eu sou uma pessoa recuperada e empregada novamente no estado do Ceará", conta. Empatia Pessoas em situação de rua em Fortaleza Sistema Verdes Mares José (nome fictício) ainda vive em situação de rua, mas também destaca a importância das ações de comunidades católicas, como o Shalom. "Existe uma parte que ainda tem humanidade, que olha pra gente com um olhar não de misericórdia, não com pena, mas de amor ao próximo, eles trazem um calçado, uma roupa, uma alimentação." Para ele, é preciso combater o preconceito. "A gente quer que a pessoa olhe pra gente, independente da condição social, ou não, mas tá olhando assim, reto, sabe, sem pesar, sem julgar, sem desconfiar, é isso que a gente quer, quer ser humano novamente", enfatiza.